Valéria Auada
As doenças provocadas pela exposição ao amianto devem eclodir na sociedade brasileira em torno de 2025 e 2030. A previsão é da auditora fiscal do trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, em São Paulo, Fernanda Giannasi.
Ela está em Curitiba para participar da audiência publica sobre a proibição do uso do amianto, que acontece nesta quarta-feira (19), às 9h, no Plenário da Assembleia Legislativa. A audiência é promovida pela Comissão Interinstitucional pelo Banimento do Amianto.
"O amianto é considerado a catástrofe sanitária do século XX e se constitui num crime social quase perfeito. As empresas se apropriaram do lucro e deixaram a conta ser paga pelo sistema de saúde pública. Imagine o nosso combalido Sistema Único de Saúde, quando eclodir essa epidemia silenciosa do amianto que se projeta em nossa sociedade em torno de 2025 e 2030", declarou Fernanda.
Segundo o médico do Ministério Público do Trabalho do Paraná (MPT/PR), Elver Moronte, as doenças provocadas pelo amianto geralmente aparecem 30 anos ou mais após a exposição ao mineral. "É difícil detectar a relação entre a doença e a exposição do trabalhador ao amianto porque ela tem um período de latência muito grande", explica o médico.
A auditora destaca que atualmente, na Europa, os cientistas estão pesquisando a exposição indireta e ambiental do amianto. Ela cita como exemplo os professores da Universidade de Jussie, na França, que adoeceram somente pela exposição ao isolamento térmico com amianto das salas de aula.
Para o procurador de Justiça Saint-Clair Honorato dos Santos, o amianto mata e deve ser banido. "O produto é perigoso e está exposto no meio ambiente, como as caçambas que têm o lixo da construção civil", lembra Santos.
No Brasil, o amianto do grupo crisotila é amplamente utilizado na construção civil, principalmente na fabricação de telhas de fibrocimento e em menor escala em caixas d'água. Ele é um mineral considerado cancerígeno e degradador do meio ambiente.
A inalação das fibras de amianto pode causar lesões nos pulmões e em outros órgãos, provocando doenças como asbestose, câncer no pulmão, laringe e estômago, mesotelioma de pleura, peritônio e pericárdio, placas pleurais e derrame pleural.
O aposentado e presidente da Associação Paranaense dos Expostos do Amianto (Aprea), Herbert Fruehauf, 52 anos, trabalhou quatro anos e sete meses numa empresa que fabrica telhas e caixas d'água de fibrocimento à base de amianto e tem espessamento de pleura com fibrose e derrame causado pela exposição ao mineral.
"Eu tenho falta de ar e dor torácica. O volume do pulmão diminuiu e já fiz uma cirurgia para a retirada de líquido e biópsia. Sinto que estou perdendo a respiração, que ela está deficiente. A doença é progressiva. A gente tem que cuidar da cabeça também porque dá depressão", conta Fruehauf.
O aposentado e presidente da Associação Brasileira dos Expostos do Amianto, Eliezer João de Souza, 70 anos, trabalhou 13 anos em uma empresa no Estado de São Paulo, cuja unidade já fechou e onde manipulava muitos produtos com amianto.
Ele já fez operação para retirar nódulos da pleura provocados pela exposição ao amianto. "Até hoje tenho amianto no corpo. Sinto falta de ar e cansaço físico", diz Souza.
No Paraná, há 14 casos de doenças provocadas pelo amianto que estão sendo acompanhadas pelo Centro Estadual de Saúde do Trabalhador da Secretaria de Estado de Saúde.
O médico sanitarista e consultor da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Zuher Handar, ressalta a convenção 139 da organização. "Ela fala sobre o câncer ocupacional e estabelece que todas as substâncias cancerígenas no trabalho devem ser banidas do meio e substituídas", frisa o médico.
Projeto de lei
O presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Paraná, deputado Luiz Eduardo Cheida, tem um projeto de lei nº 76/2011 que proíbe a comercialização e a fabricação de produtos com amianto no Paraná.
O projeto de lei está tramitando desde fevereiro deste ano na AL e já foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Comissão de Saúde e pela Comissão da Indústria e Comércio.
"A Assembleia Legislativa tem a oportunidade de fazer o bem para o Paraná e banir o amianto que é cancerígeno, assim como entende o Inca e os trabalhadores da indústria do amianto", afirma Cheida.
Segundo a procuradora do Trabalho, Margaret Matos de Carvalho, o projeto de lei tem o apoio do Ministério Público do Trabalho do Paraná e do Ministério Público Estadual. "Mesmo que o projeto não seja aprovado, o consumidor deve ter a consciência em não adquirir produtos com amianto", defende a procuradora.
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